sexta-feira, 20 de março de 2015

Até de Olhos Fechados


Já faz tempo que é noite. Já deveria ter amanhecido. São as cortinas fechadas? São meus olhos fechados? É minha mente fechada? Acho que está na hora de levantar da cama, está na hora de me incomodar com o atraso. O escuro é cômodo, porém não é confortável. 

Estava aqui admirando quem fui e o que fiz como se fosse outro alguém. Alguém brilhante como eu jamais seria. Como jamais voltarei a ser se não me levantar e abrir essas cortinas. Belas palavras esse alguém um dia escreveu, gostaria de conhecê-lo. Quando ele voltará? Ou ela...

Me faltam palavras aqui nesse escuro, acho que não consigo enxergá-las com os olhos fechados. Preciso levantar. Já me disseram que fui música, que fui poetiza, que fui escritora, que fui e não voltei. Mas eu estou sempre aqui, no escuro, atrás das cortinas, com os olhos fechados, com a mente quase, quase fechada. Há uma fresta por onde entra uma brisa trazendo umas ideias vez ou outra. Mas não é assim que funciona.

Se eu prestar atenção no meu silêncio posso escutar várias vozes. Umas vozezinhas que me mandam umas palavras. Se eu escutar bem então não tem mais jeito. Então eu tenho que dar um destino a elas. Eu tenho que escrevê-las.

Não preciso necessariamente abrir os olhos, ou as cortinas, mas a mente... Essa tem que estar bem aberta pra entrar luz, pra clarear as ideias, pra renovar as memórias e me mostrar de novo e de novo e de novo. Entre pontos e vírgulas e interrogações e exclamações e nunca aspas. Porque, pra dizer a verdade, eu nunca fui. Eu ainda sou. Eu ainda estou. Então não se despeça ainda.