sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Da Série: Quando as Luzes Se Apagam. Pesadelo 02

Ela engoliu a água tentando não pensar no comprimido, coçou os olhos e a ponta do nariz distraidamente, desligou a luz e se deitou. Um suspiro cansado foi o que precedeu o seu sono pesado.

Não sabe ao certo como, mas agora estava na sala da sua própria casa. O chão estava frio e a luz estava fraca. A sala estava turva e ela piscava repetidas vezes tentando, inutilmente, melhorar a situação. Sentiu sua perna ser repentinamente puxada para traz, mas não sentiu o que fez aquilo. Ao levantar-se a dor no joelho esquerdo lhe arrancou o gemido. Mancando alcançou uma cadeira e se sentou. Mas, antes que pudesse se acomodar, a cadeira se endireitou e se arrastou, apertando-a conta a mesa. Suas mãos pareciam terem sido puxadas e colocadas em paralelo sobre a mesa, os dedos afastados. Ela encarava suas próprias mãos aterrorizada, tentando movê-las, mas era impossível. Sentiu o seu cabelo ser puxado e seu pescoço doer imediatamente com o movimento brusco. Olhou ao seu redor e não via nada. Mas sentia. Sentia os olhares, os cochichos, os risos.

A cadeira a sua frente arrastou-se vagarosamente, como se estivesse interessada em qual seria a sua reação ao ver uma cadeira movendo-se sozinha. Como se dissesse "pobre garota, está mais preocupada com a cadeira do que com quem se sentará". Ela sentia um gelo consumindo o seu estômago e um sopro cruel em sua nuca. Esperava a qualquer momento uma dor aguda em suas costas, mas não tinha forças para virar-se e olhar nos olhos o seu algoz. Ficava lá, imóvel e assustada, olhando para frente, para uma cadeira aparentemente vazia. 

Foi rápido. Sua cabeça bateu na mesa com força e ela se ergueu sentindo uma forte dor na testa. Antes que pudesse pensar, sua testa atingiu e superfície da mesa novamente, com força. Como? Ela não queria, mas continuava a bater a cabeça na mesa, cada vez mais forte, mais rápido. As pancadas a deixavam fraca e desnorteada. O barulho surdo ecoava pela sala. Tudo acontecia contra a sua vontade, era como se ela fosse atraída pela mesa de uma forma inexplicavelmente magnética.

Pensamentos incoerentes voavam em sua mente no que parecia ser uma eternidade entre uma batida e outra. Mais uma vez, mais uma vez. Até quando? O sangue escorria pelo seu rosto e espirrava quando ela atingia novamente a mesa. Ela inspirava o próprio sangue. Não gritava, não gemia. Morria aos poucos e violentamente. E seus olhos pesavam. E seu rosto doía. E o som das pancadas. E quando ela acordaria?