Do alto, há anos luz de distância, na imensidão do universo,
observava incansavelmente aquele a quem dera seu coração, mesmo que sem aviso
prévio. Há tanto tempo o admirava de longe, há tanto tempo o almejava. Seu amor
era incrivelmente maior que o seu brilho, mas nunca seria maior que o brilho do
olhar dele, porque ele era o ser mais perfeito já visto durante todos os muitos
anos de sua existência.
Ela simplesmente não sabia o que mais a atraía naquele
olhar: a simplicidade, a paz, a beleza ou aquele brilho sem igual. O brilho que
incide mais que qualquer astro. O brilho que ilumina a qualquer distância. O
brilho que é mais do que visível. O brilho que alcançou cada cantinho do seu
coração. E que a preencheu por completo.
Mas, ultimamente, tem havido algo de estranho com seu amado.
Ele anda cabisbaixo, tristonho, aparentemente infeliz. Por muito tempo ela pôde
perceber que ele sempre estava sozinho, nunca se aproximava de ninguém. Por
vezes ela até se alegrava por ele não se aproximar de garotas, mas agora ela
podia sentir que a dor da solidão de uma imensa estrela também pode ser a dor
de um minúsculo rapaz. Ela sabe o quanto ter um coração para alegrar faz falta
e como alegrar um coração pode alegrar a vida de uma pessoa, ou uma estrela, por inteiro.
Passou horas bolando planos para tentar reverter a tristeza
da face daquele que possuía o sorriso mais belo de todo o universo. Enquanto
isso, na Terra, a noite se instalava e um olhar distraído interrompeu seus
pensamentos. Mesmo distante ela podia olhar dentro dos seus olhos e sentir a
dor do deu olhar. Não sabia nem mesmo o seu nome, mas sabia que tinha que
fazê-lo sorrir de algum modo e que àquela distância nada poderia fazer.
De repente, ela percebeu que aqueles olhos, os mesmo que ela
admirou durante anos, agora a admiravam. Ela não era a estrela mais brilhante
do céu, não era a mais bela, mas alguma coisa finalmente chamou a atenção do
rapaz, que a olhava fixamente.
Naquele momento ela sentiu que o seu lugar não era no céu,
longe do amor, longe daquele olhar. O seu lugar era na Terra, com o seu amor e aquelas
suas lindas estrelas, que nesse momento estavam chorando. Sem pensar duas vezes
ela, velozmente, se foi em direção a Terra. Passava pelos outros astros tão
rapidamente que eles não conseguiram nem reconhecê-la, ou talvez nunca a conheceram
realmente. O seu amor e o seu desejo a empurravam cada vez mais rápido. Ela já
se aproximava da Terra e o seu peito explodia de excitação e ansiedade. Ver
cada vez mais perto aqueles olhos brilhantes não podia ser comparado a
absolutamente nada.
Foi quando ela chegou à atmosfera terrestre e todo o seu
corpo foi coberto por um calor quase tão imenso quanto o seu amor. E foi a isso
que ela associou: ao calor do amor, à proximidade do seu amado. Mas o seu curso
foi alterado contra a sua vontade. Ela estava se distanciando do seu amor, indo
para outra direção e se aproximando, na verdade, do oceano. O desespero a
infestou e tudo que ela pode fazer foi fechar os olhos e, com todo o seu coração,
desejar que naquele momento ele sorrisse verdadeiramente...
Os olhos não se desgrudaram da estrela nem por um momento. Ela
passava pela atmosfera deixando para traz um rastro brilhante. “Essa é uma
estrela especial”. E a estrela se afastava rapidamente, mesmo que para os olhos
de brilho equivalente, esse momento durasse a eternidade. Eles, então, se
fecharam e, com todo o seu coração, ele desejou um amor verdadeiro, como o seu
sorriso.
E quando abriu os olhos novamente ela conseguiu ver o sorriso mais lindo e verdadeiro do universo e já estava pronta para passar o resto da eternidade ao lado de outras estrelas, no fundo do mar. E se deixou invadir pelas quentes águas do amor para repousar agora numa imensidão muito menor que a de costume.