domingo, 11 de março de 2012

Estrela Cadente



Do alto, há anos luz de distância, na imensidão do universo, observava incansavelmente aquele a quem dera seu coração, mesmo que sem aviso prévio. Há tanto tempo o admirava de longe, há tanto tempo o almejava. Seu amor era incrivelmente maior que o seu brilho, mas nunca seria maior que o brilho do olhar dele, porque ele era o ser mais perfeito já visto durante todos os muitos anos de sua existência.
Ela simplesmente não sabia o que mais a atraía naquele olhar: a simplicidade, a paz, a beleza ou aquele brilho sem igual. O brilho que incide mais que qualquer astro. O brilho que ilumina a qualquer distância. O brilho que é mais do que visível. O brilho que alcançou cada cantinho do seu coração. E que a preencheu por completo.
Mas, ultimamente, tem havido algo de estranho com seu amado. Ele anda cabisbaixo, tristonho, aparentemente infeliz. Por muito tempo ela pôde perceber que ele sempre estava sozinho, nunca se aproximava de ninguém. Por vezes ela até se alegrava por ele não se aproximar de garotas, mas agora ela podia sentir que a dor da solidão de uma imensa estrela também pode ser a dor de um minúsculo rapaz. Ela sabe o quanto ter um coração para alegrar faz falta e como alegrar um coração pode alegrar a vida de uma pessoa, ou uma estrela, por inteiro.
Passou horas bolando planos para tentar reverter a tristeza da face daquele que possuía o sorriso mais belo de todo o universo. Enquanto isso, na Terra, a noite se instalava e um olhar distraído interrompeu seus pensamentos. Mesmo distante ela podia olhar dentro dos seus olhos e sentir a dor do deu olhar. Não sabia nem mesmo o seu nome, mas sabia que tinha que fazê-lo sorrir de algum modo e que àquela distância nada poderia fazer.
De repente, ela percebeu que aqueles olhos, os mesmo que ela admirou durante anos, agora a admiravam. Ela não era a estrela mais brilhante do céu, não era a mais bela, mas alguma coisa finalmente chamou a atenção do rapaz, que a olhava fixamente.
Naquele momento ela sentiu que o seu lugar não era no céu, longe do amor, longe daquele olhar. O seu lugar era na Terra, com o seu amor e aquelas suas lindas estrelas, que nesse momento estavam chorando. Sem pensar duas vezes ela, velozmente, se foi em direção a Terra. Passava pelos outros astros tão rapidamente que eles não conseguiram nem reconhecê-la, ou talvez nunca a conheceram realmente. O seu amor e o seu desejo a empurravam cada vez mais rápido. Ela já se aproximava da Terra e o seu peito explodia de excitação e ansiedade. Ver cada vez mais perto aqueles olhos brilhantes não podia ser comparado a absolutamente nada.
Foi quando ela chegou à atmosfera terrestre e todo o seu corpo foi coberto por um calor quase tão imenso quanto o seu amor. E foi a isso que ela associou: ao calor do amor, à proximidade do seu amado. Mas o seu curso foi alterado contra a sua vontade. Ela estava se distanciando do seu amor, indo para outra direção e se aproximando, na verdade, do oceano. O desespero a infestou e tudo que ela pode fazer foi fechar os olhos e, com todo o seu coração, desejar que naquele momento ele sorrisse verdadeiramente...

Os olhos não se desgrudaram da estrela nem por um momento. Ela passava pela atmosfera deixando para traz um rastro brilhante. “Essa é uma estrela especial”. E a estrela se afastava rapidamente, mesmo que para os olhos de brilho equivalente, esse momento durasse a eternidade. Eles, então, se fecharam e, com todo o seu coração, ele desejou um amor verdadeiro, como o seu sorriso.

E quando abriu os olhos novamente ela conseguiu ver o sorriso mais lindo e verdadeiro do universo e já estava pronta para passar o resto da eternidade ao lado de outras estrelas, no fundo do mar. E se deixou invadir pelas quentes águas do amor para repousar agora numa imensidão muito menor que a de costume.