domingo, 24 de julho de 2011

Cinema: Terror - Parte II


Acordou, mas a escuridão era tanta que não sabia se tinha realmente aberto os olhos. 
Percebeu que não usava roupas. Tentou gritar mas a dor falou mais alto. Tentou levantar mas a dor era mais forte. Tentou lembrar o que havia acontecido. [Droga!] Ia ser necessário mais do que uma Aspirina para aquela dor passar. Respirar doía.

Em que maldito lugar ela estava? 

Não enxergava nada, em compensação os demais sentidos se aguçaram, como não pudia se mover muito começou a desvendar o ambiente com a ajuda deles.

Tateou o chão à sua volta. Parecia ser de pedra. Molhado, úmido e escorregadio. Duro, frio e desconfortável. Agora que tinha notado isso começou a sentir frio. Tremer doía. Respirar estava ficando cada vez mais difícil. Queria abraçar as pernas para ajudar a esquentá-las; mesmo que conseguisse não adiantaria, seus braços pareciam estar quase congelando.

Concentrou-se na sua audição e pôde ouvir pingos. A fonte deveria estar distante de chão se considerado a  frequência e som que provocava quando se encontravam com a poça que já havia se formado. Ela esperava que aquilo fosse água, não importava se era suja ou não. Sua garganta ardia de sede e, mesmo com toda a umidade, ela se sentia em um deserto. Talvez fosse melhor do que aquele lugar.

O corpo doía, desidratado e congelando; mesmo assim ela se esforçou para respirar fundo. Um décimo do que uma pessoa geralmente consegue absorver de ar para encher os pulmões já foi suficiente para deixá-la mais debilitada e quase chorar de dor. Fechou os olhos e segurou. Agora... o cheiro. Uma cheiro conhecido invadia o ar e trazia de uma só vez milhares de lembranças. Como aquela vez que estava querendo aprender a andar de bicicleta sozinha, para surpreender seu pai quando ele chegasse do trabalho, mas caiu e ralou o joelho. Ou aquela vez que estava subindo naquela amendoeira que tinha no seu quintal, mas escorregou e feriu o cotovelo. Ou ainda, aquela vez que estava brincando com o Ed, seu melhor amigo,  correndo pela rua, mas ela tropeçou e machucou o joelho. 
Isso só pode significar uma coisa: que o cheiro era bom. Bom por fazê-la lembrar de bons tempos
Relaxou por alguns segundos antes de voltar à realidade, antes do frio voltar, antes da dor aumentar.

[Concentre-se...] Hora de sentir. Sentir tudo de uma vez só! 
O que ela sentia naquele momento? Sentia frio, sentia dor, sentia saudades, sentia arrependimento, sentia solidão. Mas... não sentia medo. Se tivesse que morrer naquele exato momento, morreria sem medo
Preocupou-se. Será que ela morreria fria e sem amor? [NÃO! Não posso!] 

Tudo deu lugar a uma fúria incontrolável. Sentia raiva do frio, ódio da dor, fúria de arrependimento, aversão a solidão. Mas não sentia medo. Se tivesse que matar naquele exato momento, mataria sem medo
Preocupou-se. Será que eu mataria fria e sem amor? - Doce ódio de sabor amargo.

Já não sentia dor, e mesmo podendo levantar-se sem nenhum problema, arrastou-se uns dois metros e meio, cravando as unhas nas frestas entre as pedras do chão, esfregando o corpo nu no chão coberto de musgo e limo. Chegou onde queria depois de pouco tempo, seguindo o som. Olhou para cima e abriu a boca. Uma gota acertou a sua testa, outra embaixo dos olhos, outra o queixo, até que, finalmente, uma gota caiu certeiramente em sua boca.
Apesar do cheiro forte fazê-la lembar de muitas coisas, o gosto não se parecia com nada que já houvesse provado antes. Mesmo assim continuou na mesma posição até que mais cinco gotas caíram goela abaixo. Ela despencou para o lado, deitou em posição fetal e adormeceu.

Não sonhou.

Não sabe por quanto tempo dormiu, mas quando acordou, imediatamente, sentiu o cheiro bom e suas forças retornaram. [Um momento...] Não escutava mais os pingos. [Não pode ser!] Sentou-se e foi escorregando as mãos no perímetro ao seu redor, até encontrar a poça. A sua única conhecida naquela maldita escuridão.
Sem pensar duas vezes abaixou-se e começou a lamber o chão. O líquido escorria pela sua garganta frio como o lago, que ficava na frente da casa onde morou quando criança, no inverno. 

Satisfação. Deixou-se cair para traz e ficou olhando para cima.

O silêncio a incomodava. Quem será que a teria colocado ali? O que quer dela? 
Ela se levantou e começou a andar, sem precauções, para frente. Depois de alguns passos parou. Seu corpo tremia por dentro. Ela parou porque havia uma parede bem na sua frente, mas ela não a via. Apenas sabia que havia uma parede ali, podia sentir isso! Bem devagar levantou a mão direita e confirmou. Seus olhos se arregalaram. Havia sim uma parede. Como ela poderia saber? 
Medo e excitação tomaram conta do seu corpo.

Moveu o corpo para o deu lado esquerdo e foi andando mais rápido. E aconteceu mais uma vez. Parou porque havia uma parede no seu caminho. Mudou de direção novamente e andou mais rápido ainda dessa vez e sentiu uma pedra muito grande no seu caminho. Pulou por cima dela e se surpreendeu. O que era pra ser apenas um pulinho se tornou um salto bem mais alto do que esperava. Continuou e, depois de mais alguns passos, novamente uma parede. Mas ela não desistiu! Correu o mais rápido que pôde, certa de que agora encontraria uma saída. Mais uma vez sentiu a parede ao se aproximar e desacelerou o passo, frustrada, até parar.

Sem nenhuma dificuldade voltou para o seu ponto inicial, ao lado da poça, e se sentou abraçando as pernas e encostando a testa nos joelhos. 

Algum tempo se passou... Ela não sabia se havia dormido. De repente, voltou a escutar os pingos.
Algo que se assemelhava a esperança preencheu o vazio que sentia e ela pôs-se embaixo das gotas novamente, sem dificuldade. Deixou que várias gotas invadissem seu corpo por dentro. Bebeu aquele líquido como se fosse a água do seu deserto. Deitou no chão de pedras para ouvir o som das gotas e sentir o cheiro que a fazia tão bem. Brincou na poça por um tempo, molhando a ponta dos dedos, mas logo cansou-se.

Agora desejava outra coisa. Sentia uma vontade incontrolável. Era como vivesse em abstinência a anos e hoje fosse a oportunidade perfeita! Levantou-se rapidamente. Olhou para cima. Pudia sentir as grades enferrujadas. Era dali que vinham as gotas. Não pôde conter o sorriso. Seu coração pulsava em ritmo acelerado! Não pudia esperar nem mais um minuto! Esticou o indicador e deixou que a última gota se encontrasse com ele. 


Levou o dedo aos lábios, e saltou.

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